sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ultimatum

Definitivamente, não há nada mais extasiante e ao mesmo tempo horrível e opressor que a arte. A inocência com a qual somos abraçados por esta manifestação una e espontânea do Caos é completamente absurda e irremediável. Aniquilando nossos sentidos, de forma irreversível, a arte é a única coisa não linear e sistemática que consegue dar vazão à uma existência vazia e inexplicável. Num primeiro momento, todos buscamos aquilo que nos conduza a um lugar calmo e pacífico, longe de qualquer espécie de ponderação que possa desorganizar ou desconstruir a racional e letárgica lógica cotidiana pela qual somos viciados desde a infância. Porém o indivíduo pode, ao longo do processo, ser tocado por algo que se coloca fora de toda esfera lógica de sua vida cotidiana, e, de certa forma, ser sugado por um buraco negro descoberto dentro de si próprio e que o conduzirá, se não a um grau de iluminação e transcendentalismo quase míticos, a uma loucura completamente úmida e irreversível. O grande problema é que o homem colocou a esfera da arte no sótão da existência, e há um abismo enorme entre o ser e ele mesmo. Primordialmente, este é o papel da arte: trazer o Homem ao encontro dele mesmo. Mas poucos são os que se deixam embriagar de tal forma por esse processo completamente subjetivo e alógico. É difícil sair do Locus Amenus da vida cotidiana, com a sua casinha, seu empreginho, sua rotininha, e os outros milhares de inhos e inhas da vida moderna. Porém a própria modernidade é algo absolutamente recente, invenção fatal de algum bêbado decadentista francês, e dentro dessa modernidade, não só a arte, bem como toda subjetividade que há na vida, estão fadadas a serem deixadas mesmo nesse porão escuro e inóspito, onde nada que fuja do mero convencional e palpável é digno de consideração ou reflexão. Trata-se da mecanização do homem, e nada mais.

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