quinta-feira, 24 de julho de 2008

Elisabeth II

O corpo dela tremia. As pernas chutavam o ar, frenéticas. Tinha as mãos grudadas aos lençóis, como se os quisesse rasgar, cravar as longas unhas no colchão macio. O peito arfava, a respiração era entrecortada, como se prendesse o ar nos pulmões por muito tempo, e depois o soltasse, aos poucos. Estava confusa. Na verdade, eu também. Desde o princípio, quisera fazê-la sofrer. Senti, ao olhar em seus olhos, que ela era um desses espíritos inquietos, que adorava ser levada a condições extremas, para o bem ou para o mal. Não lembro ao certo aonde a havia encontrado. Um bar, talvez, ou um clube, uma festa...Lembro que havia pouca luz, e a música era enfadonha. Pedi uma bebida, fechei os olhos, e quando os tornei a abrir, ali estava.
Agora as pernas dela pressionavam minha cabeça. Era como se me quisesse espremer, esmagar, me enfiar inteiro dentro dela. Balbuciou algumas palavras indistintas. Ergui-me de onde estava e fitei seu rosto. Sua expressão era inexata. Um misto de angústia, expectativa e desejo. A boca salivava. Excessivamente. Escorria pelas arestas entreabertas dos lábios, torneava o queixo, derramava-se pelo pescoço, uma cascata de saliva. As mãos, decididas, agarravam meus cabelos vigorosamente, e como que num espasmo me empurraram para baixo. Era incrível o quanto ela tremia. Abriu a boca e disse, com uma voz trincada, e em tom de sussurro: "Me chupa! Me chupa logo, cretino! É isso que eu quero!" Eu sabia exatamente o que ela queria. Levantei-me da cama vagarosamente, vasculhei o chão buscando minhas roupas e me vesti. A última coisa que me lembro de ter visto antes de bater a porta atrás de mim fora um rosto furioso, decepcionado, e olhos que me penetraram em busca de alguma explicação para algo que nem eu mesmo conseguia entender.

Nenhum comentário: